Como é Bonito
Como é bonito, o dia nascendo
Ver a natureza, que coisa mais bela
Como é bonito, o gramado verde
A sombra do ipê, a rosa amarela
Como é bonito, é divino e belo
Como é bonito, é divino e belo
Como é bonito, o sabiá cantando
Como a mariposa, voa com cautela
Como é bonito, ver matando a sede
No riacho doce, a onça magrela
Como é bonito, é divino e belo
Como é bonito, é divino e belo
Como é bonito, rolinha voando
O tatu não dá, para o leão trela
Como é bonito, a reação dele
Do bugio atento, perigo não espera
Como é bonito, é divino e belo
Como é bonito, é divino e belo
Como é bonito, o peixe nadando
A garça, o filhote, sempre perto dela
Como é bonito, já não sei de onde
Que o barulho vem, bem forte da goela
Como é bonito, é divino e belo
Como é bonito, é divino e belo
Análise da Música
Aspectos Linguísticos e Estilísticos
A composição "Como é Bonito" apresenta uma linguagem simples, poética e contemplativa, características comuns da MPB (Música Popular Brasileira), especialmente aquela que celebra a natureza brasileira. O vocabulário utilizado é acessível e direto, enriquecido por elementos da fauna e flora brasileiras (ipê, sabiá, tatu, bugio, onça). A escolha lexical privilegia termos relacionados à beleza natural e à observação ("bonito", "bela", "divino"), criando um efeito de contemplação e admiração. Este estilo de composição remete a uma tradição da MPB que valoriza o Brasil natural e suas riquezas, aproximando-se da vertente regionalista do gênero, que teve em compositores como Tom Jobim, Luiz Gonzaga e Dorival Caymmi seus grandes expoentes.
Estrutura
A música se estrutura em quatro estrofes de quatro versos cada, alternadas por um refrão de dois versos que se repete. Cada estrofe segue um padrão semelhante: inicia-se com "Como é bonito" seguido de uma observação da natureza, criando um paralelismo estrutural que percorre toda a composição. Os versos são construídos em uma cadência que lembra o ritmo pausado e contemplativo de certas vertentes da MPB, possivelmente em compasso binário ou quaternário. As estrofes funcionam como pequenas vinhetas ou cenas da natureza, enquanto o refrão reforça o tema central da admiração pela beleza natural. Esta estrutura circular, em que diferentes cenas são apresentadas sob o mesmo mote contemplativo, é característica de canções narrativas da tradição popular brasileira.
Temática
A composição explora temas fundamentais:
1. A beleza da natureza brasileira em seus diversos aspectos
2. A admiração contemplativa diante do mundo natural
3. As relações ecológicas entre os seres vivos (predador/presa, mãe/filhote)
4. A diversidade da fauna e flora nacionais
5. A sacralização da natureza ("divino e belo")
Elementos Narrativos
A narrativa da canção se desenvolve através do olhar de um observador que contempla diferentes cenas naturais. Não há uma história linear, mas uma sucessão de quadros que compõem um mosaico da natureza brasileira. Cada estrofe apresenta uma nova cena: o amanhecer com o ipê e a rosa; o sabiá, a mariposa e a onça no riacho; a rolinha, o tatu, o leão e o bugio; o peixe, a garça e seu filhote. A progressão narrativa se dá através da diversificação dos ambientes e interações observadas, culminando na última estrofe com um elemento de mistério (o som forte de origem desconhecida), que sugere que há sempre mais a descobrir na natureza do que aquilo que é imediatamente visível. O narrador se posiciona como um observador admirado, quase em estado de contemplação mística diante da beleza natural.
Aspectos Musicais e Rítmicos
Embora não tenhamos acesso à melodia, a estrutura da letra sugere características típicas da MPB: versos de métrica relativamente regular que se adaptam bem a uma estrutura melódica recorrente, com pequenas variações para acomodar as diferenças silábicas entre os versos. O refrão repetitivo indica o momento de maior força expressiva e possivelmente de participação coral. A construção rítmica dos versos, com uso frequente de vírgulas criando pausas internas, sugere um andamento moderado, propício à contemplação descrita na letra. As aliterações presentes em versos como "a sombra do ipê" e "no riacho doce" contribuem para a musicalidade intrínseca do texto, criando pequenos jogos sonoros que enriquecem a experiência auditiva mesmo sem a melodia.
Aspectos Emocionais
A paleta emocional da canção é predominantemente serena e contemplativa, baseada na admiração e no encantamento diante da beleza natural. Há momentos de tensão sutilmente introduzidos nas descrições de perigo e alerta dos animais ("perigo não espera", "voa com cautela"), mas estes servem principalmente para enriquecer o retrato da natureza em seus diversos aspectos, incluindo a luta pela sobrevivência. A repetição enfática de "Como é bonito, é divino e belo" após cada estrofe reforça o estado emocional de contemplação quase religiosa, sugerindo uma experiência transcendente na observação da natureza. Esta abordagem emocional alinha-se com uma vertente da MPB que busca uma conexão espiritual com a terra e seus elementos, presente em compositores como Milton Nascimento e Vinicius de Moraes.
Recursos Poéticos
A letra emprega recursos poéticos específicos como:
1. Paralelismo sintático intenso, com a repetição de "Como é bonito" no início de versos-chave
2. Personificação sutil dos elementos naturais, atribuindo-lhes comportamentos específicos
3. Metáforas e comparações simples que enriquecem as descrições visuais
4. Aliterações que criam musicalidade interna ("sombra", "sabiá")
5. Uso de termos regionais brasileiros que ancoram a letra na tradição cultural nacional
Relação com a Tradição da MPB
A composição dialoga com a tradição da MPB através de sua valorização da natureza brasileira, tema recorrente no gênero desde suas origens. A abordagem contemplativa e a exaltação da flora e fauna nacionais remetem a compositores como Tom Jobim ("Águas de Março"), Dorival Caymmi (em suas canções sobre o mar) e criações mais recentes como as de Milton Nascimento e Almir Sater, que frequentemente celebram a natureza brasileira. A estrutura em quadros ou cenas sucessivas, ligadas por um refrão recorrente, é característica de muitas composições da MPB, especialmente aquelas com influência folclórica. O uso de referências específicas à fauna brasileira (sabiá, ipê, onça, bugio) também insere a canção na tradição nacionalista da MPB, que busca valorizar e divulgar elementos culturais e naturais tipicamente brasileiros. A dimensão quase religiosa da contemplação natural ("divino e belo") conecta-se com a vertente transcendental da MPB, que muitas vezes funde elementos de devoção religiosa com a celebração da natureza, traço presente desde as modinhas até compositores contemporâneos.